A falta de uma abordagem sistêmica do curso de Engenharia é um cenário de desestímulo que impacta o aluno durante a sua formação, até o projeto final de graduação. Muitos estudantes, inclusive, ficam indecisos, deixando as pesquisas e a elaboração de conteúdos para a última hora. Sobrecarregados, não encontram um sentido holístico nos assuntos fragmentados estudados em diferentes disciplinas ao longo dos períodos cursados até a sua tese. Na Engenharia Civil, o professor da disciplina Metodologia de Projetos, Joel Vieira, vinha percebendo essa situação, além das dificuldades inerentes aos estudantes que escolhem essa profissão, ou seja: os conteúdos precisam de algo mais para estimular os alunos, além de pegar o diploma.

Na prática em sala de aula na disciplina Metodologia de Projeto, o professor Joel já utilizava um método que englobava o ciclo de vida de um projeto para edificação. Entretanto, isso era realizado de forma superficial, pelo curto prazo de um semestre, e com a limitação de conhecimento nas áreas de outras disciplinas. Ao final de 2018, sob a pressão do acúmulo de tarefas no final do semestre, Joel teve a ideia de estender o projeto para além classe. A intenção era que o aluno buscasse o conhecimento nas disciplinas específicas existentes. Assim surgiu a proposta de implementar um projeto em comum entre várias disciplinas da Engenharia: a Metodologia de Projetos Integrados (MPI).

A integração das disciplinas, entretanto, não é algo simples. Na Engenharia Civil não existe uma sequência de disciplinas no sentido cronológico e objetivo do processo de execução real de um projeto de edificação, pois estão estruturadas por créditos e sob outro conceito. Em função desse projeto, o professor Joel conseguiu, com o apoio do departamento, e principalmente do Ciclo Técnico Científico (CTC), colocar alguns pré-requisitos para viabilizar a MPI. Isso foi necessário porque a MPI não é uma disciplina, dessa forma não impõe obrigações, ou seja, os métodos de ensino/aprendizagem e avaliação continuam sendo inerentes às disciplinas que compõem o projeto.

 

O ambiente de aprendizagem on-line como aliado

 

A questão seguinte a ser resolvida seria como concretizar o planejado. Para organizar a integração das disciplinas que fariam parte da MPI, o professor idealizou um local externo à sala de aula, on-line, um apoio em “nuvem” ao projeto do aluno. Gostaria que fosse, também, um espaço para debate e construção em conjunto. Além disso, todos os alunos de todas as disciplinas integrantes da MPI deveriam ter acesso a esse sistema, e o tempo todo. Os arquivos enviados pelos alunos precisariam ficar armazenados e serem transpostos de um semestre para o outro, até o último período, para que eles pudessem acompanhar a evolução dos projetos ao longo do curso. Para finalizar, seria necessário, também, manter um histórico armazenado durante todo o curso.

Com tudo isso em mente e, apesar de achar, inicialmente, que não seria possível implementar o Projeto com as características desejadas, Joel procurou a Coordenação Central de Educação a Distância (CCEAD). Parecia complicado. A intenção era conhecer os recursos do ambiente de aprendizagem on-line e verificar as possibilidades de concretizar seu projeto.  Após várias reuniões entre a equipe da CCEAD e o professor, até que ficasse claro o entendimento do que era o Projeto e quais as configurações e necessidades específicas para a sua implementação, o Moodle se mostrou a solução ideal para o que se pretendia e o espaço da MPI no ambiente foi concebido com sucesso. “O apoio da CCEAD foi de suma importância para dar suporte a essa ideia”, ressaltou.

Por causa da integração entre o Moodle e o Sistema Acadêmico (SAU), os alunos são alocados nas disciplinas no ambiente de aprendizagem on-line de maneira automática. Naturalmente, os alunos matriculados nas disciplinas escolhidas para fazerem parte da MPI também são diretamente incluídos neste espaço reservado para a metodologia criada pelo professor Joel.  A primeira etapa do projeto estava pronta.

 

MPI atua como uma incubadora

 

À medida que o professor e a CCEAD trabalhavam em conjunto para criar o espaço no ambiente de acordo com a maneira esboçada, outras ideias foram sendo colocadas em prática. A participação dos professores das disciplinas do ciclo profissional do curso foi fundamental. “Não foi difícil formar o time, porque vivíamos sobrecarregados, professores e alunos. Cada disciplina tinha que conseguir uma base de arquitetura para a prática em  projetos de edificações e a proposta é utilizar uma mesma base para todos,  para fazer o trabalho e exercitar a teoria”, explicou o professor. Pensando nisso e inspirado pelo conceito das incubadoras nas universidades, ele se empenhou, também, para que os alunos trabalhassem com projetos autênticos de construtoras que atuam no mercado de trabalho: “É importante não só treinar para que o aluno tenha uma boa base científica, mas para que ele tenha, também, um pé no mercado de trabalho. A PUC tem esse conceito, e isso é fundamental, é importante ter este equilíbrio”, ressaltou.

A integração sistêmica do currículo acadêmico e o alinhamento das  ementas das disciplinas com a prática do mercado na execução de projetos por empresas é uma troca que faz parte da constante evolução dos cursos de Engenharia, sendo, inclusive, uma preocupação do Ministério da Educação (MEC), como demonstrado nas novas Diretrizes Curriculares Nacionais de Engenharia (DCNs) homologada em abril deste ano.  O projeto encaixou como uma luva com as diretrizes.

Segundo o professor, a empresa Mozak cedeu alguns projetos com boa vontade e o mercado está ciente do projeto. “A visão dos empresários é a de que isso irá beneficiá-los, pois os alunos já saem da universidade quase prontos para atuar na sua profissão da melhor maneira”, complementou. O que ele não sabia é que muitos alunos já haviam manifestado o desejo de mudanças e a MPI veio, justamente, como uma oportunidade de atender esses anseios dos estudantes.

A contextualização de conceitos teóricos a partir da prática de projetos no ambiente científico permite que os alunos possam ganhar confiança a partir de seus erros e acertos. Além disso, possibilita que eles se arrisquem um pouco mais, conheçam e encontrem soluções, o que muitas vezes não seria possível, caso eles já estivessem inseridos no mercado de trabalho.

Como a ideia de implementação da MPI surgiu no final do ano passado. e funcionou em 2019.1 em modo experimental, a cada fim de semestre serão feitas reuniões com os professores, a coordenação e também a equipe da CCEAD para verificar a necessidade de ajustes para o semestre seguinte.  Essa é a hora de colher o feedback do que vem sendo feito.

“A repercussão junto aos alunos e professores está sendo bastante positiva, trazendo um novo ânimo para o curso”, comemorou o professor. O retorno favorável surge, inclusive, de outros professores de cursos e áreas distintas que, pensando no potencial desta dinâmica e das vantagens que esse processo pode trazer para a formação dos alunos, já estão sondando as possibilidades de implementação desta mesma metodologia nas suas disciplinas.

Mas, o mais importante, na visão do professor Joel Vieira, é o fato de que a MPI coloca os alunos no centro do curso na universidade. Ao trabalhar com projetos reais e executáveis, que unem a teoria e a prática do mercado de trabalho, é permitido aos alunos escolher como desejam trabalhar, sendo protagonistas do desenvolvimento da sua formação profissional. Os cerca de 200 a 300 alunos envolvidos na MPI estão trabalhando como numa espécie de incubadora, porém, com todas as trocas, discussões e exercícios sendo feitos, acompanhados e armazenados de modo on-line.

A Metodologia de Projetos Integrados trouxe outro sentido, para além de ter o diploma e terminar o curso: o projeto colocou em uma linha paralela o desenvolvimento de um produto e seu acompanhamento gradativo. Como disse o professor Joel na primeira audiência que fez com os alunos sobre a MPI, trata-se de fazer Engenharia com ênfase no empenho e alegria pelos resultados alcançados.