Alguns estudos na área da educação indicam que os jovens da geração nascida no século XXI são cognitivamente bastante diferentes das gerações anteriores, fruto da presença maciça de tecnologias da informação e da comunicação em suas vidas. Estas diferenças provocaram mudanças também no perfil dos estudantes que hoje frequentam as universidades, gerando, consequentemente, alterações nas políticas educacionais em todo o mundo, que passaram a considerar a inserção de tecnologias da informação e da comunicação em escolas, na formação de professores e nas práticas pedagógicas.
Ainda assim, é comum que haja uma lacuna na relação entre alunos e professores quando o assunto é a tecnologia em sala de aula. Keite Melo, professora e pesquisadora na área de educação, explica o problema que acontece atualmente nas escolas e universidades: “Os estudantes, chamados de geração Google ou nativos digitais, têm contato intenso com as tecnologias, são jovens mergulhados no ciberespaço, estão em todas as redes sociais possíveis, mas a maioria dos professores é de migrante digital, ou seja, usa as tecnologias, mas não incorpora à educação. Para resolver este problema, é preciso pensar na formação desses professores e no seu letramento digital. Isso é responsabilidade do poder público e das instituições educacionais”.
A PUC-Rio entende a importância de estabelecer políticas que incentivem os professores a conhecer e a utilizar as novas tecnologias, descobrindo novas formas de se relacionar com seus alunos, dentro e fora da sala de aula.
Para o Vice-reitor Acadêmico, José Ricardo Bergmann, este é um dos grandes desafios da universidade: “Nosso foco é trazer práticas inovadoras em educação, queremos oferecer aos nossos alunos disciplinas totalmente a distância e disciplinas que usem ferramentas da educação a distância como apoio às aulas presenciais; para isso, voltamos nossa atenção para o auxílio ao corpo docente, para que ele esteja preparado para lidar com as tecnologias na educação. Damos aos nossos professores acesso a fóruns virtuais, videoconferências, blogs e diversas outras ferramentas, disponíveis em um ambiente de aprendizagem on-line, para ajudá-los na elaboração dos cursos”.
Silvia Ilg Byington, pesquisadora do Núcleo de Memória da PUC-Rio, esclarece que a utilização das ferramentas digitais como suporte à educação é algo natural dentro da PUC-Rio, pois reforça uma filosofia antiga da instituição: “Vivemos um momento de transformações intensas. A educação está incorporando novas tecnologias e, com isso, está surgindo uma nova forma de ser professor, de ser pesquisador e de ser aluno. Estas transformações apenas atualizam e potencializam uma função social da universidade que sempre foi prioritária e muito cara à direção e a toda a comunidade universitária desde o momento da sua criação, que é pensar em rede e atuar de forma a contribuir para que, em qualquer lugar do país e do mundo, as pessoas troquem conhecimento da melhor forma possível”.
O resultado do investimento da PUC-Rio no uso das tecnologias na educação é o entusiasmo de vários professores que já mudaram a forma de ensinar. Confira, a seguir, alguns depoimento de quem descobriu as vantagens e benefícios de incorporar novas práticas de aprendizagem às aulas.
Marcela Oliveira
Professora de Filosofia
No curso presencial, o aluno está em sala de aula, mas isso não significa que ele esteja de fato presente na discussão que está acontecendo. Ele pode não ter lido o texto, pode estar com a cabeça em outro lugar, ou seja, ele pode ter uma postura passiva; isso não acontece no curso a distância. O aluno de graduação que opta pelo EAD tem que adquirir um grau de maturidade para perceber que sua iniciativa é fundamental para que o curso dê certo.
Por outro lado, não basta que o professor apenas crie um conteúdo para cursos a distância, é preciso pensar como fazer para que este conteúdo desperte o interesse dos alunos. Os jovens que estão na graduação estão completamente imersos nos meios tecnológicos. A charada, na minha opinião, é tornar atrativo o que já faz parte do dia a dia deles, ou seja, aproveitar o que já e do uso cotidiano deles para um uso que não é familiar. Acho até que alguns já têm essa experiência, mas que não é a norma.
Devemos pensar um conteúdo que seja apresentado através do ambiente virtual para uma geração que tem familiaridade com esse meio, mas que pode encontrar estranhezas ricas quando este meio é usado na educação. Para filosofia, nada melhor do que estranhar o que é familiar. Nosso desafio, então, é fazê-los olhar para essas tecnologias de uma outra forma, descobrindo outras possibilidades.
Daniela Silveira Soluri
Professora de Química
Nas aulas de Química, enquanto os professores usam o quadro, o datashow ou simplesmente a fala, os alunos estão com seus tablets, celulares e computadores. É uma concorrência muito desleal. É preciso nos reinventarmos para atrairmos a atenção desses jovens.
Por exemplo, não vejo mais cadernos em sala de aula, o que eu vejo são fotos. Eles tiram fotos do quadro. Se eles estão trazendo a tecnologia para a sala de aula, devemos fazer o mesmo. Hoje em dia, é fácil encontrar qualquer informação na internet, basta saber pesquisar, mas precisamos fazer os estudantes entenderem que isso não substitui o professor. Por outro lado, o professor precisa entender também que o uso das tecnologias pode tornar a aula mais agradável e, portanto, mais interessante para quem assiste.
Eu faço vídeo-aulas e uso simulações no computador, isso aproxima o mundo virtual do aluno ao mundo virtual da educação. As respostas foram muito positivas, recebi vários elogios e há outros professores interessados em ter acesso aos vídeos. Trabalhar com estas alternativas é super válido. Temos que usar a tecnologia a favor do conhecimento e quando decidi fazer isso, tive o apoio da PUC-Rio, o que foi muito importante. A universidade tem mesmo que mexer com a gente. Sem inovação, vamos perder esta competição.
Marcelo de Andrade Dreux
Professor de Engenharia
Tudo o que puder ser usado na aula para torná-la melhor é bem-vindo, mas tem alguns professores acomodados, outros com receio porque os alunos sabem mais do que eles a usar tecnologias. O que esses professores não sabem é que a tecnologia vai ajudá-los, afinal, os alunos estão super acostumados com mídias digitais, por que não explorar isso em sala?
Por exemplo, há softwares usados na educação que também são acessados por celular e permitem que os alunos interajam de uma maneira incrível. Tem quem use o tablet no lugar do caderno e, assim, consegue fazer algo mais sofisticado do que apenas copiar o que está no quadro. No final do curso, forma uma espécie de livro super completo com minhas telas de Power Point, imagens fotografadas do quadro, anotações do próprio aluno etc. É incrível e é claro que uso isso a meu favor. Quando falo em usar mídias, os jovens adoram e é super interessante.
Os estudantes se sentem em casa com as tecnologias, imagina o que significa para eles entrar em uma sala e apenas ouvir um professor falando durante uma hora e meia? Eles não conseguem acompanhar.
Na minha opinião, a palavra mágica é facilitador. O professor é hoje o facilitador, quem mostra os caminhos possíveis para alcançar o conhecimento. A tecnologia nos permite ser facilitadores testando muitas possibilidades e isso enriquece muito as aulas.
Luis Felipe Carvalho
Professor de Empreendedorismo
Dou aula há dez anos e percebo que os alunos estão cercados de mídias digitais, isso faz parte do dia a dia deles, mas ao mesmo tempo, eles têm muita dificuldade em lidar com práticas digitais na educação.
Tenho a impressão de que ainda não encontramos a fórmula certa para que o aluno efetivamente junte o mundo digital e o mundo presencial da sala de aula, mas acho que isso é um processo e estamos caminhando no sentido certo.
Estamos vivendo um momento de experimentação, existem muitas dúvidas, de alunos e professores, por isso, é importante estar com a mente aberta e pronto para experimentar propostas didáticas novas que incorporem as tecnologias, porque as respostas estão na sala de aula, na experimentação.
Aqui na PUC-Rio os professores têm a vantagem de poder experimentar e testar atividades novas junto com uma equipe especializada que trabalha na Coordenação Central de Educação a Distância. Eu, por exemplo, trago ideias de novas metodologias e novas práticas e, junto com esta equipe, posso avaliar as possibilidades, saber se há viabilidade técnica, perceber se faz sentido ou não o que estou propondo.
É claro que não se pode fazer um curso inteiro como teste para uma nova prática pedagógica, mas é possível e válido construir novos conteúdos utilizando recursos digitais, pode ser um vídeo, uma atividade que utilize alguma mídia ou pode ser uma dinâmica que envolva o celular, o importante é usar a tecnologia a seu favor, acredito que este seja o caminho.
Tatiana Sodero
Professora de Matemática
Minha experiência com educação a distância é a produção de vídeos para alunos do curso presencial e para alunos do curso semipresencial de “Cálculo 4”. Tive uma resposta super positiva dos alunos, eles perguntam muita coisa sobre os vídeos.
Aqueles que têm dificuldade em sala de aula usam este material em casa e, por conta disso, acabam participando mais do curso. O que eu vejo é que os alunos que usam o ambiente virtual e assistem aos vídeos, naturalmente, se integram mais nas aulas presenciais. Ainda assim, acredito que temos uma longa distância para percorrer em relação ao uso das tecnologias na educação porque os jovens estão na nossa frente.
Mas temos que tentar chegar até eles e acredito que já demos o primeiro passo. Percebo claramente que os estudantes da PUC-Rio usam mais e mais o ambiente virtual de aprendizagem.