Grande parte das empresas já descobriu há algum tempo a importância de investir em seus funcionários. Por isso, é bastante comum que departamentos de recursos humanos ofereçam cursos de formação continuada ou capacitação. A novidade é que mais e mais empresas estão descobrindo agora que é uma boa opção utilizar ambientes virtuais de aprendizagem em código aberto, geralmente disponíveis para download gratuitamente na internet, para oferecer às equipes o treinamento necessário e, mais do que isso, oferecer também um espaço para a construção de comunidades de partilha de conhecimento e boas práticas.
Muitos diretores e gerentes empresariais acreditavam – alguns ainda acreditam – que estas plataformas, por não serem pagas, não oferecem serviços de qualidade, mas algumas grandes companhias optaram por utilizar o Moodle e, desde então, outras organizações resolveram experimentar o ambiente. E gostaram.
A fabricante de automóveis Subaru foi uma das primeiras a adotar a plataforma Moodle. Em entrevista para a publicação multimídia Workforce, Darryl Draper, na época, gerente da Subaru em uma sucursal americana, explicou que a formação presencial na empresa era impossível de gerir, pois além de haver um número enorme de funcionários alocados em mais de 600 concessionárias espalhadas por todo o país, a taxa de rotatividade era muito alta. A opção, então, foi desenvolver cursos on-line e distribuí-los através da intranet da empresa: “Eu queria uma formação organizada de forma sólida em que os vendedores dos diferentes concessionários pudessem colaborar”, afirmou Draper na entrevista.
A Subaru preparou duas versões de um curso de formação de apoio ao cliente, a primeira, baseada em autoestudo, e a segunda, baseada na criação de comunidades de prática interativa, o que permitia, além da consulta a materiais do curso, troca de ideias entre todos os participantes: “Os concessionários adoraram as comunidades. Conversavam, partilhavam informações e desenvolveram as melhores práticas de trabalho. Os fóruns registraram uma enorme adesão”, disse Draper.
Uma das vantagens apontadas pela gerente foi a possibilidade de criar uma base de dados com as melhores práticas e procedimentos deixados pelos profissionais que participaram dos cursos.
O Departamento de Recursos Humanos da PUC-Rio também está usando o Moodle para oferecer cursos de capacitação para seus funcionários. Até agora já foram oferecidos dois cursos, com a participação de mais de 150 funcionários.
O uso de ambientes virtuais de aprendizagem em empresas está crescendo tanto que se tornou assunto de pesquisa acadêmica. Pesquisadores já criaram o conceito de “universidade corporativa” para definir os treinamentos que deixaram de ser simplesmente cursos para atender uma demanda momentânea e se tornaram uma verdadeira estrutura pedagógica empresarial, exatamente como nas universidades formais.
Luciano Carvalho da Silva e Lucia Maria Martins Giraffa, ambos da PUC do Rio Grande do Sul, analisaram a utilização do ambiente Moodle como apoio ao treinamento presencial em corporações. No artigo publicado como resultado deste trabalho, os autores concluíram que o grande diferencial para que organizações sobrevivam em época de competitividade e inovação é a capacidade de aprendizagem e, mais do que isso, a capacidade de criar novos conhecimentos. O desafio é, portanto, fazer com que organizações e colaboradores aprendam a aprender.
“O que está por trás disso tudo é uma mudança de paradigma, que seja capaz de instaurar uma filosofia de educação permanente, pautada em estratégias organizacionais. A educação corporativa fundamentada nos pressupostos da educação a distância surge como uma resposta para esta necessidade. Assim, o e-learning pode apresentar-se como uma ferramenta para a gestão do conhecimento, buscando dinamizar o desenvolvimento de competências e gerenciando o conhecimento através de diversos recursos multimídia que facilitam a interação entre os envolvidos, propiciando o cumprimento das metas propostas para o processo de educação corporativa”, afirmam os autores.
DESCONSTRUINDO MITOS
Para atrair mais usuários e acabar de vez com as dúvidas e os medos de diretores e gerentes corporativos, a Moodle HQ, responsável pela plataforma Moodle, publicou em seu site uma lista com os mitos mais comuns acerca do uso de ambientes virtuais de aprendizagem por empresas. Veja a seguir, algumas das questões e respostas apresentadas.
Assim que o Moodle estiver estável ele deixará de ser livre e terá uma licença proprietária. Se fosse bom mesmo seria pago!
Martin Dougiamas registrou em mensagem que o Moodle sempre será livre. Mesmo que aconteça o contrário, a comunidade poderá pegar a última versão e continuar o desenvolvimento a partir dali. Uma das razões por que o Moodle é tão bom é porque ele é um código aberto. O que já está livre até o atual momento continuará livre – legalmente – mesmo que algo no futuro não continue. Ninguém pode comprar o Moodle, e qualquer desvio sem o consentimento da comunidade global não iria muito longe.
O Moodle não tem a experiência empresarial que nós procuramos.
O Moodle é utilizado mundo afora por clientes corporativos para treinamentos internos, até mesmo escolas de voo, certificação de pilotos e mecânicos, e imensa variedade de desenvolvimento profissional. Moodle como recurso é uma aplicação, não é uma organização. As pessoas que fazem parte da comunidade Moodle ao redor do mundo têm vasta experiência em todas as indústrias e todo tipo de educação. Uma evidência muito forte da aplicação comercial do Moodle está no fato de que a Microsoft Corporation financiou a modificação do Moodle para funcionar com a sua plataforma SQL.
Não existe documentação, treinamento ou suporte técnico disponível. Você estará sozinho!
Existe excelente (e está aumentando) documentação on-line, produzida pela comunidade de usuários e desenvolvedores. Sendo on-line e digital, este recurso é atualizado diariamente e acompanha os desenvolvimentos do Moodle tão logo eles aconteçam – com muito mais detalhe que um livro poderia apresentar, e certamente mais que qualquer vendedor comercial oferece para seus produtos.
A maioria dos usuários consideram a interface intuitiva e isto ajuda a reduzir os requisitos de treinamento. É possível para as instituições fazerem treinamento interno e muitas têm adotado esta abordagem com sucesso. Alguns parceiros do Moodle também se especializaram em treinamento.
O Custo Total de Propriedade do Moodle é, no final das contas, maior do que seria com uma plataforma proprietária.
Pare e pense! Em ambas plataformas, Moodle ou comercial, será necessário pagar por hospedagem, suporte, treinamento e conteúdo, de um jeito ou
de outro: com o Moodle, muitos destes custos podem ser feitos dentro da instituição, porque o código é aberto e o Moodle é muito bom fornecendo os recursos que os professores precisam para escrever, eles próprios, atividades on-line, mas isto não é obrigatório.
A diferença é que, com o Moodle, não existe pagamento de licenças de uso. Nenhuma. O dinheiro que você gastaria pode retornar para melhorar o software ou ficar com a comunidade educacional para o bem comum. Não precisa pagar dividendo de acionistas ou remunerar o capital de risco. Além disto, você não corre o risco do fornecedor comercial aumentar o preço da licença de uso unilateralmente ou fechar o negócio.
O Moodle não foi projetado para o meu grupo específico de estudantes ou clientes.
O Moodle tem sido usado com sucesso por instituições que vão desde a educação básica até a educação superior, em todas as áreas do conhecimento incluindo arte, linguagens, humanas e matemática. Está também estabelecido no ramo da educação continuada e em ambientes de treinamento governamentais e corporativos.
Sendo o Moodle um software livre, ele não pode ser tão bom quanto um sistema produzido por uma grande empresa que fatura milhões por ano em licenças de uso.
O fato de que o Moodle é livre (não é sem custos, mas livre) significa que os esforços do time principal são inteiramente públicos. Você pode observar os progressos através do tracker, download do código que eles acabaram de escrever e participar das conversas nos fóruns. Isto significa que qualquer um que queira (e há literalmente centenas que fazem) podem ajudar no desenvolvimento do código principal, plugins customizados, módulos, integração e temas, ou reportando problemas que apareçam.
Além disto, muitas instituições que utilizam o Moodle decidem dedicar parte de sua força de trabalho em manter partes do código do Moodle, ou desenvolvendo recursos novos. Isto faz sentido uma vez que o Moodle é livre. Se elas estivessem usando um produto comercializado, não só não poderiam fazer isto devido às licenças, como também teriam que pagar todo ano para continuar usando aquilo que tivessem desenvolvido.
Isto significa que, como é comum acontecer com software livre, o Moodle desenvolve bem mais rápido do que um software comercial.
Uma empresa proprietária de um ambiente virtual de aprendizagem precisa investir em marketing. O Moodle não tem este custo extra podendo usar a maior parte do recurso para o desenvolvimento como prioridade.
Os fatos acima também ajudam a fazer com que o Moodle seja mais inovador que outras plataformas.