Algumas disciplinas do Departamento de Letras da PUC-Rio atraem a atenção de alunos de outros cursos que, ao escolher as matérias eletivas – aquelas que não fazem parte do currículo obrigatório, mas complementam o aprendizado – buscam aulas em língua estrangeira. Para efetuar a matrícula nestas disciplinas, com exceção do nível básico, é necessário passar por um teste de nivelamento que avalia o nível de conhecimento do estudante no idioma escolhido.

DO PRESENCIAL PARA O VIRTUAL

Até 2016, este teste era presencial, mas a equipe do Departamento de Letras decidiu inovar e implementar um modo diferente de realizar a tarefa: a distância. A professora Cláudia Freitas, coordenadora de graduação do departamento, explica como isso aconteceu:

“Percebi um problema recorrente, principalmente com matérias em inglês, como, por exemplo, literatura britânica ou literatura americana: algumas pessoas interessadas em cursar estas disciplinas, no momento da matrícula, descobriam que era necessário marcar um dia para fazer o teste de nivelamento e como não havia mais tempo, elas eram obrigadas a desistir dos cursos. Acho que algumas disciplinas de língua estrangeira têm pouca procura porque a inscrição nestas matérias depende do teste. Houve, então, o processo de informatização da matrícula e os alunos passaram a visualizar as matérias disponíveis nos seus horários livres. Imaginei que aquela seria uma boa oportunidade para preencher as vagas ociosas de língua estrangeira, mas para isso, seria necessário dinamizar os testes de nivelamento. Como minha pesquisa está relacionada com informatização, estou atenta a novas possibilidades nesta área. Além disso, lembrei da Coordenação Central de Educação a Distância, que sempre teve as portas abertas para parcerias e possui uma excelente infraestrutura. Juntei tudo e sugeri ao departamento oferecer os testes a distância”.

VANTAGENS

Quando o diretor do Departamento, o professor Karl Erik Schollhammer, anunciou a mudança, houve um pouco de apreensão por parte de alguns professores. Com o tempo, eles perceberam que o resultado seria benéfico para todos. A primeira vantagem é a correção imediata das questões objetivas. Há, ainda, a possibilidade da criação de um banco de dados destas questões, o que, a médio prazo, irá permitir que a prova seja alterada automaticamente e isso resultará em menos trabalho para os professores.

“Conhecia as provas e sabia que muitas questões eram de múltipla escolha, ou no estilo ‘falso ou verdadeiro’, ou seja, questões objetivas. Eu sabia, portanto, que era perfeitamente possível aplicá-las em um ambiente on-line”, diz a professora Cláudia Freitas.

A segunda vantagem evidente é a possibilidade de o aluno realizar a prova quando e onde quiser. A matrícula é realizada no período de férias e há alunos que programam sua grade enquanto estão viajando. Eles podem, dessa forma, se cadastrar e fazer o teste de qualquer lugar.

Entre novembro e dezembro de 2016, houve o primeiro processo de realização dos testes para os alunos da graduação e da pós-graduação. Em janeiro de 2017, o teste de inglês foi realizado para portadores de diploma. Em março, novos testes de nivelamento on-line aconteceram.

Por enquanto, há um período determinado em que as provas ficam disponíveis on-line, ou seja, os alunos têm um prazo para entrar no ambiente virtual e responder as perguntas. Cláudia Freitas explica o motivo:

“Apesar de muitas questões serem objetivas, há algumas discursivas que precisam de correção, então, tivemos que estabelecer um prazo para a realização dos testes, assim temos tempo também para finalizar todo o processo, desde a aplicação da prova até a correção. Uma alternativa seria deixar os testes disponíveis ininterruptamente. A cada dois meses, por exemplo, os professores iriam corrigir e divulgar os resultados. Mas pensaremos nisso em função da demanda. Ainda é cedo para discutir esta possibilidade”.

ALUNOS MATREIROS

A entrada no universo virtual fez com que algumas dúvidas surgissem: e se o aluno pedisse a outro para fazer o teste? E se consultasse livros? A professora Cláudia Freitas responde:

“De fato, não temos como saber quem faz a prova e este foi um ponto bastante discutido no departamento, mas o interesse em ser honesto é do próprio estudante. Colar é pior para ele, afinal, não é um processo seletivo, é apenas um nivelamento. Ser nivelado em uma turma mais adiantada vai significar notas baixas e até uma possível reprovação, ou seja, é melhor que seja honesto. O que era bastante comum nos testes presenciais era justamente o contrário: alunos com nível avançado que erravam as questões para se matricular em turmas de iniciantes e assim, aumentar o CR. O grande problema disso, além da falta de ética, é que a vaga deixa de ser ocupada por alguém que realmente precisa”.

Estes alunos são rapidamente identificados pelos professores. Em alguns casos, são jovens que estudaram toda a vida em escolas de ensino bilíngue. Para resolver este problema, antes de fazer os testes on-line, o estudante precisa preencher um questionário com informações sobre sua formação: onde estudou, se
já participou de algum curso de línguas, se já estudou fora do país etc. Assim, cria-se uma conscientização naqueles interessados apenas em aumentar a nota
do curso.

AS QUESTÕES ON-LINE

Os testes realizados são de inglês, francês, alemão, espanhol e chinês. Há um tempo para a realização e os alunos recebem a informação de que este tempo começa a ser contado no momento em que a página da prova é aberta, ou seja, não existe a possibilidade de interromper a tarefa e voltar mais tarde.

As questões on-line são versões atualizadas daquelas que já existiam. A diferença é que, a distância, não existe a possibilidade do aluno tirar eventuais dúvidas, por isso, a equipe de professores e a equipe da CCEAD fizeram uma revisão minuciosa dos enunciados; houve esta preocupação para não restar dúvidas em nenhuma questão.

A única prova que segue um formato diferente é a de alemão. Beate Höhmann, professora responsável pelo nivelamento neste idioma, explica o motivo: “Diferentemente dos outros testes, aplicamos uma prova de múltipla escolha que é disponibilizada aos alunos no site da editora Hueber, cujo material didático nós empregamos na sala de aula”. Para a professora de alemão, o primeiro teste correu muito bem. Beate Höhmann esperava se deparar com muitos problemas, mas não foi o que aconteceu. Cada professor tem uma visão diferente de todo o processo e cada um teve uma experiência diferente de acordo com sua matéria.
Leila Mathias Costa, professora de espanhol, achou a experiência positiva:

“Apoio totalmente o projeto do nivelamento on-line porque facilitou muito o acesso dos alunos, já que puderam organizar-se com mais autonomia, sem depender de horário e espaço físico, presencial, pré-determinados. Em Espanhol, o número de alunos que realizaram a prova triplicou em relação ao último nivelamento presencial”.

Já a professora de inglês, Márcia Lobianco Vicente Amorim, acha que é cedo para fazer qualquer avaliação: “A equipe da cadeira de inglês acredita que ainda é preciso fazer um levantamento dos pontos positivos e negativos desta mudança. Neste primeiro teste a distância, tivemos menos alunos do que nos testes anteriores”.

Cláudia Freitas acredita que a divulgação boca a boca que irá acontecer aos poucos será importante, pois vai atrair mais alunos. Inicialmente, a divulgação foi realizada através do PUC Online e vários estudantes não souberam da mudança, mas esta foi uma inovação grande no Departamento de Letras e os resultados serão observados com o tempo: “Acho que fizemos um bom investimento. É claro que precisamos fazer alguns ajustes, mas acho que estamos no caminho certo. Do ponto de vista administrativo, resolvemos muitos pontos: economizamos papel, liberamos os professores que tinham que aplicar os testes presenciais e não precisamos mais reservar salas – o espaço físico na universidade é um problema. Acredito que para os alunos também foi muito bom, então, na minha opinião, o primeiro retorno foi positivo”.