DO PRESENCIAL PARA O VIRTUAL EM TRÊS TEMPOS

O ensino semi-presencial ou a distância tem sido muito discutido recentemente e algumas instituições de ensino já iniciaram suas experiências nesta modalidade. Na PUC-Rio este modelo já está sendo implementado em diferentes disciplinas. A professora do Departamento de Matemática da universidade, Cristiane Pinho Guedes, conhecida como a professora Kity, é uma das docentes da matéria “Cálculo de uma variável” na modalidade semi-presencial e faz um relato de sua experiência.

Ela conta que existia, desde 2011, a ideia de criar uma disciplina semi-presencial de matemática e o professor Sinésio Pesco, então coordenador de graduação, iniciou um primeiro projeto nesta direção e ficou bastante satisfeito com o resultado dos primeiros testes realizados com uma turma de “Cálculo a uma variável”. Este projeto recebeu o apoio da CCEAD (Coordenação Central de Ensino a Distância) da PUC-Rio), que forneceu todo o suporte para a implementação. Em seguida, a professora Kity se envolveu no projeto e aceitou o desafio de montar os primeiros vídeos para esta disciplina. “Desde o início usamos vídeos, mas trabalhamos com modelos de filmagens diferentes”, explica Kity.

Take 1

A disciplina “Cálculo de uma variável” é dividida em duas partes, uma teórica e uma computacional. Nesta segunda parte, as aulas ocorrem em laboratório, com a utilização do Maple, um software de computação simbólica que auxilia em diversas atividades de matemática.

Como muitos alunos têm dificuldade em usar o Maple, a professora Kity fez os primeiros vídeos caseiros com objetivo de auxiliar a utilização do software para uma turma presencial. O resultado foi supreendente e já no segundo semestre de utilização dos vídeos havia uma quantidade muito grande de visualizações.

“As filmagens foram feitas com o aplicativo de captura de tela, Camtasia, e o software Maple era apresentado ao mesmo tempo que o conteúdo teórico era explicado ao aluno. Os alunos diziam que aquilo estava ajudando muito na compreensão da matéria. Chegamos a pensar que poderia haver uma evasão da sala de aula, já que os vídeos estavam disponíveis no ambiente on-line da disciplina, mas isto não aconteceu”, lembra a professora.

Take 2

Com o bom retorno dos vídeos de apoio ao Maple, o Departamento de Matemática partiu para uma nova etapa: oferecer a disciplina de “Cálculo de uma variável” no formato semi-presencial, em que a parte teórica continuaria presencial, mas a parte computacional seria completamente a distância, aproveitando os vídeos que já estavam prontos, além do material desenvolvido nos semestres anteriores na plataforma Moodle e disponibilizado na página da CCEAD.

Na opinião da professora Kity, o aluno precisa ter uma maturidade muito grande para realizar um curso a distância, além de ter disciplina rigorosa para respeitar o cronograma estabelecido: “Esta não é uma opção para qualquer um. Acho que calouros desta disciplina de “Cálculo” não devem fazer uma disciplina a distância, por exemplo; eles têm que estar em sala de aula. Mas a modalidade a distância é excelente para alunos com tempo limitado, porque trabalham, ou aqueles transferidos de outras universidades que já cursaram a matéria, mas não conseguiram isenção na PUC. Há ainda os alunos reprovados que enxergam no curso a distância uma alternativa interessante”.

Take 3

A terceira etapa do projeto do Departamento de Matemática foi oferecer a disciplina de “Cálculo” no formato semi-presencial, mas agora envolvendo tanto a parte teórica quanto a computacional. Das 8h previstas na carga horária, foram mantidos encontros de 2h semanais presenciais, restando 6h a distância. Para que o objetivo fosse alcançado com sucesso seria necessário realizar gravações não só do Maple, mas do conteúdo teórico. Com o apoio do decanato do CTC e do Departamento de Comunicação, a professora Kity iniciou a gravação das primeiras aulas de “Cálculo” no estúdio de filmagem do Departamento de Comunicação.

Os primeiros vídeos foram disponibilizados a todos os alunos, inclusive das turmas presenciais, com boa recepção. A turma a distância tinha vinte alunos, mas os acessos dos vídeos chegavam a cem. Vários estudantes dos cursos presenciais também usavam o material, afirmando que era um reforço para as aulas.

Em relação aos vídeos, a professora Kity relata algumas das dificuldades iniciais envolvidas neste tipo de atividade: “Não é a nossa praia e eu ficava um pouco tensa. Não são todos que têm facilidade para enfrentar um estúdio e agir naturalmente logo no início. A luz, o tempo, o diretor, enfim, todo aquele contexto era estranho. Também eu ficava um pouco frustrada, pois percebia que não refletia exatamente quem eu era em sala, nem o que eram as minhas aulas. Mas com o tempo, você vai adquirindo a prática e fica natural”.

“Logo em seguida”, relata a professora Kity, “o Sinésio adquiriu uma câmera pequena, especial para filmagem de telas de computador, e eu tive a oportunidade de testá-la em casa. Resolvi filmar a resolução de um exercício complicado, que não tinha ficado claro para os alunos”.

Foi o início de uma nova etapa, não planejada inicialmente. “Era apenas a resolução de um exercício, não uma aula teórica, mas ficou bastante informal, do jeito que os alunos gostam”, afirma a professora.

Os vídeos de resolução de exercícios não são substitutos das aulas, mas estão ajudando muitos os alunos. A professora explica que é muito trabalhoso prepará-los, mas é muito fácil de fazer e a ideia pode ser replicada por outros docentes, dispostos a encarar o desafio.

Para os estudantes é mais uma ferramenta que pode auxiliá-los na aquisição do conhecimento; para os professores é uma conquista e o resultado do seu esforço pode ser visto na satisfação dos alunos e, também, na tela do computador.