O que fazer com aquilo que se aprende em um curso de especialização? Como aplicar, na prática, as teorias estudadas em sala de aula? Jéssica Zacarias de Andrade, professora da Rede Estadual do Rio de Janeiro e aluna de Doutorado do Departamento de Educação da PUC-Rio, decidiu investigar e buscar respostas; escreveu, então, a dissertação de mestrado “A inserção e uso das TIC nas escolas públicas do estado do Rio de Janeiro – Estudo de caso com os concluintes do curso de pós-graduação lato sensu “Tecnologias em Educação”.
Jéssica pesquisou o dia a dia dos cursistas do Estado do Rio de Janeiro e durante seus estudos, uma hipótese surgiu: o projeto de inserção das TIC nas escolas tem maiores chances de ser bem sucedido quando organizado e/ou orientado por um multiplicador e/ou um orientador tecnológico. Profissionais que já atuavam como líderes na área de tecnologia educacional se mantiveram nestas funções após três anos de término do curso, dando continuidade ao processo de implementação das TIC nas escolas.
Uma das alunas entrevistadas por Jéssica é multiplicadora tecnológica e afirmou que seus colegas utilizam as mídias como adornos em sala de aula: “Os recursos até servem de elo entre o professor e o aluno, mas sem a devida exploração, ou seja, de forma superficial e irrefletida. Embora já tenhamos passado da fase inicial de sensibilização para o uso das ferramentas tecnológicas, ainda estamos engatinhando quanto ao uso dos recursos”.
Para esta aluna, a mudança está nas estratégias adotadas pelos multiplicadores tecnológicos. Uma das suas iniciativas foi incentivar momentos de reflexão e estudo, além de propor oficinas de exploração das novas mídias. “A partir daí, os professores passam a interagir com seus alunos utilizando as mídias”, explicou a aluna em seu depoimento.
Os dados da pesquisa de Jéssica indicam que recursos como editor de textos, editor de apresentações, softwares educativos e vídeos, além de estarem entre os mais usados pelos professores, são usados em uma proporção similar tanto no preparo das aulas quanto para atividades em sala de aula com os alunos.
Após cursar uma especialização em tecnologias, os professores passam a usar com mais frequência as TIC. Dentre os 66 entrevistados de Jéssica, 79% afirmaram ter continuado a desenvolver experiências com TIC em suas escolas ou em outros espaços educacionais. Entre os que desenvolveram projetos de ação durante a especialização, 63% implementaram seus projetos com ou sem alterações e até mesmo em outro espaço educacional.
A expectativa dos professores após estudarem a importância das TIC é alta. Uma das pessoas que responderam ao questionário de Jéssica afirmou que “depois do processo de pesquisa é hora de transformar conhecimento em produto”.
Mas nem tudo é simples e fácil. Muitas vezes, a incorporação das TIC à prática docente e pedagógica se complica devido a fatores como número inapropriado de equipamentos e de licenças de softwares e acesso ruim à internet banda larga.
Este cenário foi confirmado na pesquisa de Jéssica através da fala dos professores ao descrever suas experiências. Além disso, a pesquisadora lembra que o simples fato de usar a tecnologia em sala de aula não pode representar em si mesmo a tão propagada inovação na educação apoiada pelas tecnologias. “As tecnologias devem procurar a integração e o diálogo com o conteúdo que se propõe ensinar, mas também com a didática referente a este conteúdo. Além disso, as TIC são úteis apenas se os professores souberem como aplicá-las. O conhecimento deve ser adaptado a situações novas”, diz.
TIC Educação 2011
O Comitê Gestor da Internet no Brasil realizou, em 2012, uma pesquisa sobre o uso das TIC na educação e identificou um avanço de 7% para 13% do seu uso em salas de aula na comparação entre os anos de 2010 e 2011. Como neste período não há indício de alteração em termos de infraestrutura tecnológica das salas de aula nas escolas públicas brasileiras, a hipótese aventada é a de que este aumento se deve ao maior número de professores que se dispõe a levar seu computador portátil para a escola.
Esta hipótese ganha força se pensarmos que boa parte destes computadores portáteis foi entregue aos professores pelas secretarias de educação, como medida de incentivo à inserção das TIC nas escolas, sendo o caso das Secretarias Estaduais – que também ofereceram modem para acesso à internet – e Municipais do Rio de Janeiro.