METODOLOGIAS ATIVAS E O APRENDIZADO PERSONALIZADO: A NOVA TENDÊNCIA NO MUNDO DA EDUCAÇÃO

Profissionais que trabalham em escolas, universidades e ONGs ligadas à educação já perceberam a importância de pensar as tecnologias a favor da educação, por isso, é cada vez mais comum a divulgação de projetos educacionais em que a tecnologia é aliada.

Maria Paula Rossi Nascentes da Silva, doutoranda de Educação da PUC-Rio, realizou uma análise de conteúdo dos relatos científicos de experiências publicadas em eventos na área de informática e educação. Ela identificou as práticas realizadas e as categorizou em função do tipo de uso segundo o proposto por Anthony Willian Bates, no livro Educar na Era Digital. Neste livro, publicado no Brasil em 2016, o autor apresenta uma listagem de atividades que usam tecnologias digitais no processo de ensino e aprendizagem.

Maria Paula Rossi diz que existe um conjunto de sete categorias, além da convencional, que não inclui tecnologias: “A primeira é a aprendizagem baseada em casos; em seguida, temos aprendizagem baseada em problemas, aprendizagem baseada em projetos, aprendizagem baseada em pesquisa e questionamentos e aprendizagem cooperativa; há, ainda, a formação prática e, por último, os laboratórios, oficinas e ateliês”.

O foco, posto por Bates, está em algumas das principais maneiras pelas quais a aprendizagem experiencial pode ser concebida e oferecida, com enfoque no uso da tecnologia e de maneira a ajudar o desenvolvimento do conhecimento em uma era digital. É neste contexto que, hoje, fala-se muito em metodologias ativas, ou seja, práticas em que o aluno tem um papel de protagonista. Durante muito tempo, este papel era do professor, agora não é mais assim.

Para Maria Paula, as metodologias ativas tornam o aluno o centro do processo de aprendizagem, colocando-o numa posição de guia dele mesmo. É importante ressaltar que estes métodos não são totalmente inovadores, muitos já estão sendo testados e usados há décadas, a novidade é que as metodologias ativas ajudam no aprendizado personalizado, uma tendência que pode mudar a forma de ensinar.

Muitos especialistas e profissionais da área de educação já discutem há algum tempo a incapacidade do ensino tradicional de suprir algumas necessidades individuais dos alunos. Daí, o debate em torno de uma forma de ensinar que priorize individualidades de cada estudante. A ideia principal é a de que as estratégias pedagógicas não devem seguir uma orientação padronizada, mas promover o desenvolvimento de cada um.

Em uma reportagem do site Businesse Insider, Brian Greenberg, CEO da Fundação Silicon Schools, fala sobre a forma diferente de cada aluno aprender e como a tecnologia permite que os educadores estabeleçam estilos de aprendizagem única em uma base caso-a-caso: “Nós, atualmente, estamos desafiando o paradigma de que todos os alunos por volta de sete anos são exatamente iguais e devem receber o mesmo conteúdo nas escolas. Ensinamos os alunos a aprender a pensar, aprender a aprender e para avaliar criticamente uma situação”.

Esta forma de ensinar tornou alguns aplicativos “sucesso de público” das escolas americanas. São programas de computador que apresentam matérias de diferentes disciplinas de acordo com o nível de habilidade de cada um, o que permite aos alunos aprenderem em um ritmo mais adequado às próprias necessidades. Ao criar um caminho individual de aprendizagem, eles priorizam a aquisição de conhecimento de conteúdos nos quais o estudante tem maior dificuldade através de mecanismos de inteligência artificial (IA) que existem na plataforma, fazendo com que ela identifique as lacunas no seu conhecimento, assim, as chances de sucesso no processo de aprendizado aumentam.

Além disso, os softwares fazem com que os alunos se envolvam com o conteúdo e isso os transforma em protagonistas na construção do próprio conhecimento. O conceito de ambiente pessoal de aprendizagem, ou PLE (Personal Learning Environments), depreende estratégias pedagógicas pouco exploradas no mundo da educação e sua definição é ainda tácita, como afirmam Pedro de Jesus Rodrigues e Guilhermina Lobato Miranda em artigo publicado na revista Revista Latinoamericana de Tecnologia Educativa.
Neste cenário, a inteligência artificial ganha força e surge como uma nova ferramenta que torna a experiência de aprender em um processo mão na massa e faz com que o aprendizado seja mais profundo e relevante.

De acordo com matéria do educador Sébastien Turbot para o site Porvir, “um recente relatório do grupo editorial britânico Pearson decifra como a inteligência artificial transformará positivamente a educação nos próximos anos. Segundo os autores do relatório, ‘o futuro oferece o potencial de ferramentas e apoio ainda maiores. Imagine companheiros de aprendizagem ao longo da vida alimentados por IA que possam acompanhar e apoiar estudantes individuais ao longo de seus estudos – dentro e além da escola – ou novas formas de avaliação que podem medir a aprendizagem enquanto ela está ocorrendo, moldando a experiência de aprendizagem em tempo real’. Na verdade, os altos custos continuam sendo um desafio, mas o dia em que as ferramentas de inteligência artificial e realidade virtual serão tão acessíveis quanto os smartphones e os computadores de mesa não está longe”. No entanto, a avaliação da aprendizagem envolve outras dimensões que não são consideradas pelos PLEs, como a dimensão socioafetiva, por exemplo.

Turbot lembra ainda que “durante décadas, a aprendizagem experimental foi confinada a experimentos científicos no arcaico laboratório da escola ou a trabalhos de férias de verão. Mas com realidade virtual e inteligência artificial, o aprendizado experiencial ou mão na massa tem um significado totalmente novo”.

Esta é uma realidade que não está tão distante das escolas brasileiras, tampouco de escolas públicas. A jornalista Ana Maria Diniz, em uma reportagem do jornal Estadão, destacou uma experiência que se iniciou em 2017 em um dos núcleos de educação infantil da rede pública de Santa Catarina: “Três pequenos robôs participam ativamente das aulas. Desenvolvidos por cientistas da Univali 
a fim de melhorar o desenvolvimento cognitivo e motor e estimular o raciocínio lógico”. Isto já era preconizado por Seymour Papert quando na década de 1980 criou a linguagem LOGO, quando os alunos aprendiam a programar exercitando o pensamento lógico a partir de uma sintaxe simples. Parece que os professores precisam atualizar-se nas tecnologias 2.0 e 3.0 que fazem da multidisciplinariedade um fato: o encontro entre educação e a produção de uma inovação em sala de aula com o uso das tecnologias.