Quando a PUC-Rio começou a elaborar a licenciatura de História a distância – oferecida a professores da rede pública de ensino do Norte e Nordeste do país –, o setor de Cultura Religiosa, vinculado ao Departamento de Teologia, foi convidado a participar do projeto, uma vez que as disciplinas religiosas fazem parte da grade curricular da universidade.

A professora Lúcia Pedrosa,  responsável por adaptar as disciplinas para o universo on-line, percebeu, ao final do trabalho, que seria possível oferecê-las também aos alunos presenciais. A ideia saiu do papel em 2010, quando foram abertas quatro turmas do curso O Humano e o Fenômeno Religioso na modalidade a distância. Atualmente, cinco professores trabalham com 211 alunos através do ambiente virtual.

Em um bate-papo descontraído, as professoras Marivani de Oliveira de Aquino Pereira, Monica Baptista Campos e Rosemary Fernandes da Costa explicaram mais detalhes deste projeto.

 

Quando o curso começou, em 2010, já havia uma procura grande entre os alunos para cursar as disciplinas a distância?

Marivani: Fizemos muita propaganda, pois ninguém sabia ainda que existia essa possibilidade. Até que as pessoas comecem a conhecer as novidades oferecidas pela universidade leva certo tempo, mas nós abrimos quatro turmas de 25 alunos e todas lotaram.

 

Qual é o perfil dos alunos que procuram o curso a distância?

Monica: Geralmente são pessoas com problemas de tempo. Muitos alunos dizem que preferem esta modalidade por existir mais flexibilidade de horário. É um serviço importante que a PUC oferece aos estudantes, principalmente aos que trabalham.

Rosemary: Mas é bom lembrar que existem também aqueles que acham que o curso a distância é fácil, justamente por não existir horário fixo, então, pensam que não há exigências, e isso não é verdade. Existe uma necessidade de organização semanal, disciplina para estudar e, é claro, as provas presenciais.

Monica: É verdade. Há até alunos que trancam o curso a distância por achar puxado demais.

Marivani: Em uma aula inaugural, um aluno perguntou onde ele iria tirar a nota mais alta, no curso presencial ou a distância. Foi uma gargalhada geral. Respondemos que tudo dependeria dele.

 

Como foi o trabalho com as primeiras turmas?

Marivani: Foi experimental e por isso mesmo limitamos o número de estudantes. Posso dizer que eram turmas-piloto. Foi preciso fazer isso até mesmo para que os professores se adaptassem, afinal, a experiência que existia era apenas em sala de aula. Seria necessário fazer esta passagem para o universo on-line.

Monica: As turmas estavam abertas para qualquer departamento. Isto acontece mesmo no curso presencial. Como são disciplinas obrigatórias, temos cerca de 4 a 5 mil alunos todo  semestre e, com exceção de Ética Profissional, que é voltada para as especificidades de cada curso, nas outras matérias as turmas têm sempre alunos de todos os cursos.

Rosemary: Nossa meta é viver a experiência do diálogo em sala de aula e nossa dúvida inicial era como fazer isso através do computador.

 

 

E vocês encontraram a resposta para esta questão?

Marivani: Fomos descobrindo a resposta ao longo dos anos, mas este é um desafio constante. Não trabalhamos apenas o conteúdo, ao contrário, instigamos o diálogo e a interatividade. Este foi o primeiro passo, ou seja, mostramos aos alunos que não bastava ler o material e fazer uma dissertação no fim do semestre. Até existe este tipo de curso a distância em outros lugares, mas não na PUC-Rio. Esta não é nossa metodologia, nem nosso objetivo.

Monica: O tempo todo buscamos inserir o aluno no diálogo. E isso está cada vez melhor. Passamos por um período inicial de conhecimento do ambiente virtual, e, agora que dominamos este espaço temos mais liberdade para trabalhar formas de envolver o aluno.

 

Qual é a dinâmica do curso?

Marivani: Existe uma rotina semanal de leitura obrigatória, além das leituras extras e a participação nos fóruns, que funcionam como uma espécie de sala de aula. Ali, os alunos debatem. A cada três semanas há uma tarefa a ser realizada. Quem não faz acaba se perdendo, e isso é um problema sério.

Rosemary: Muitos fazem a matrícula com a expectativa de esforço mínimo e resultado excelente. Estes alunos esquecem que a liberdade de gerenciar o tempo não implica em pouca dedicação. Quem pretende passar apenas 15 minutos por semana diante do computador não conclui o curso. É preciso uma dedicação de, no mínimo, duas horas semanais, afinal, não podemos esquecer que é uma disciplina de 60 horas.

Monica: Nós, professores, aprendemos que é importante deixar isso bem claro desde o início. A maioria dos alunos vem sem saber como as coisas funcionam, mas aprende ao longo do trajeto. A tendência é que isso mude. Os novos alunos são bem informados. Acho que é uma consequência da política da universidade oferecer, cada vez mais, disciplinas a distância, então, existem estudantes que já passaram por outros cursos on-line e conhecem os mecanismos. Percebo o resultado disso até mesmo nas discussões nos fóruns.

 

Qual foi o grande desafio ao desenvolver este curso?

Rosemary: Estamos lidando com algo novo. É uma cultura nova para alunos e também para professores. Temos as nossas dificuldades. Eu, por exemplo, estranhava não ter o feedback automático da turma. Na sala de aula, ao olhar para os estudantes, sei se estão gostando ou não, se estão atentos ou não. Isso se perde no ambiente on-line e é preciso criar novos mecanismos de relacionamento. Decidi usar imagens (como emoticons) para aproximar as pessoas e, curiosamente, às vezes, sinto uma aproximação maior com estes alunos que estão fisicamente longe.

Marivani: Temíamos que o curso on-line pudesse ser algo brusco e frio e descobrimos que nosso medo foi infundado.

Monica: Peço para os alunos colocarem seus retratos no ambiente, assim não temos a sensação de estar falando com fantasminhas. É até engraçado, no dia da prova, os olhares curiosos dos alunos tentando reconhecer uns aos outros e ansiosos para conhecer, também, o professor. Há um sorriso cúmplice e uma intimidade peculiar entre pessoas que nunca se viram antes.

 

Ao longo do semestre, é possível identificar o desenvolvimento dos alunos que optam por fazer o curso a distância?

Rosemary: É possível identificar e é impressionante. As disciplinas a distância oferecidas pela PUC-Rio estão sendo extremamente positivas aos alunos no que se referem à administração de tempo, autonomia, proatividade e responsabilidade.

Marivani: De fato, há um crescimento no processo de amadurecimento desses jovens. Ao perceberem que é preciso lidar com o tempo e administrar, sozinhos, as leituras, aprendem a ter mais disciplina, ganham autonomia e isso se reflete no desempenho acadêmico. Os próprios alunos reconhecem isso nas avaliações sobre o curso. Dizem que aprenderam a estudar e se tornaram menos dependentes de cobranças.

 

Há algo que tenha surpreendido vocês no curso on-line?

Rosemary: A desinibição em falar. Mesmo sabendo que todos vão ler, ainda assim os alunos se sentem mais seguros para expor suas ideias e isso é incrível, pois nossa proposta é justamente instigar o diálogo. Há um casamento entre nossos objetivos, o que inclui abrir um espaço para o debate inter-religioso, e os interesses dos alunos. São pessoas preocupadas em entender a diversidade religiosa, muitos querem conhecer para fazer escolhas independentemente da herança e cultura familiar. Estamos aproveitando este movimento deles para tornar as aulas mais prazerosas e instigantes e para promover a integração. Essa liberdade para falar de forma mais aberta não é tão frequente na sala de aula como no curso a distância.

Marivani: Nos fóruns, as pessoas falam de suas experiências pessoais, contam relatos de família e conflitos religiosos. No curso presencial, isso é muito raro. O mais comum é que os alunos procurem os professores depois das aulas para falar particularmente.

 

Existem planos para oferecer as outras três disciplinas de Cultura Religiosa na modalidade a distância?

Marivani: Existe um projeto, mas não é um processo simples. O curso precisa ser reestruturado e adaptado para a linguagem on-line, ou seja, é um trabalho grande. Além disso, ao longo da disciplina, o professor trabalha muito mais. Tudo isso tem que ser levado em conta. Certamente, há o interesse de oferecer os cursos a distância como alternativa. Claro que não seria uma substituição do presencial, mas seria uma possibilidade a mais para os alunos, o que está perfeitamente em sintonia com o contexto mundial.