Cursos de inglês e espanhol a distância são carta na manga da Federação de Transportes do Rio de Janeiro

O Rio de Janeiro está se preparando para os dois maiores eventos esportivos do planeta. Segundo dados da EMBRATUR, apenas para a Copa do Mundo, em 2014, o Brasil espera receber 600 mil torcedores de fora do país e boa parte deles passarão pela cidade maravilhosa.

Os cariocas, que já têm os braços abertos para estes turistas, precisam agora destravar a língua. Muitos empregados da área de serviços não falam um segundo idioma, o que dificulta bastante a comunicação com os visitantes estrangeiros.

Jorge das Neves Guimarães, fiscal da empresa de ônibus São Silvestre, fez curso de inglês na escola, mas diz que é exceção à regra: “Trabalho na saída do Corcovado e passo meus dias dando informações, chega a ter fila algumas vezes. Se eu ganhasse uma moedinha por cada informação que dou a um turista, sairia daqui com o bolso cheio, mas não conheço mais ninguém que trabalha comigo que fale inglês”, diz.

A maioria dos motoristas e trocadores se comunica utilizando a linguagem universal dos gestos. Jorge diz que existem algumas palavras que os turistas aprendem em português, como praia, por exemplo, mas geralmente, as pessoas usam as mãos para conversar.

Está mais do que na hora de usar as palavras e a Fetranspor (Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro) sabe disso.

Representante de dez sindicatos que reúnem 192 empresas de transporte coletivo e 19 de fretamento e turismo – o que significa 81% do transporte público regular do Estado – a Fetranspor percebeu a importância de incentivar o aprimoramento contínuo dos serviços e valorizar os profissionais do setor.

Uma das medidas tomadas pela Federação foi o desenvolvimento de vídeos educativos que visam ensinar noções básicas de inglês e espanhol para motoristas, trocadores e fiscais; a CCEAD, Coordenação Central de Educação a Distância, foi contratada para produzir este material.

“A série de vídeos foi pensada a partir das necessidades e dificuldades dos trabalhadores. Todo o material foi desenvolvido com base em pesquisa previamente realizada junto à categoria. As situações apresentadas são muito próximas da realidade dos transportes públicos”, explica Sergio Botelho do Amaral, responsável pelo projeto.

Espera-se, assim, evitar situações que seriam bastante cômicas, não fossem trágicas… para os turistas. Como foi o caso de uma jovem americana que entrou em um ônibus na Lapa para ir para Copacabana. Chegando ao ponto final, no Grajaú, quis saber onde ficava a praia. Por falta de comunicação, ela não sabia que estava indo na direção contrária ao seu destino.

O casal búlgaro Parvan e Irina passou férias no Rio de Janeiro e ficou impressionado com a falta de preparo dos profissionais da área de serviços. “Temos uma enorme dificuldade em usar os transportes aqui. Compramos um bilhete de ônibus que não foi aceito; até agora não sabemos por que isso aconteceu e ninguém conseguiu nos explicar. Tivemos que comprar as passagens na hora e demos uma nota de R$ 50,00, mas demoraram muito para nos dar o troco. Muito tempo depois, percebemos que o trocador estava sem notas menores”, desabafa Parvan.

Irina lembra que os moradores do Rio de Janeiro são extremamente prestativos. Durante a confusão dentro do ônibus, os passageiros cariocas tentaram ajudar: “as pessoas se esforçaram, foram muito simpáticas, mas isto não é o suficiente. Os profissionais que trabalham diretamente com os turistas deveriam falar inglês. Aliás, temos que fazer sinal para os ônibus? Eles não param em todos os pontos? Ninguém nos disse nada sobre isso”.

O espanhol Pedro José Vadillo viveu sete anos no Brasil e diz que, no início, teve muita dificuldade para usar o transporte público no Rio de Janeiro.

“Ninguém me entendia e eu não entendia ninguém. Não era compreendido nem quando falava espanhol devagar, por isso, tinha muito medo de andar de ônibus. Existe a necessidade urgente de qualificar os funcionários das companhias de transporte já que esta é uma cidade que recebe muitos turistas. Sei que o problema não acontece por falta de vontade, motoristas e trocadores realmente não entendem os estrangeiros, mesmo quando eles falam português, afinal, o sotaque é muito diferente. Imagine um americano tentando dizer que quer ir ao Pão de Açúcar?”, indaga Pedro.

Adriana Nogueira Nóbrega, professora do departamento de letras da PUC-Rio, coordenou a equipe de conteudistas de inglês e afirma que o objetivo do curso não é ensinar, mas sim conscientizar: “sabemos que ninguém vai aprender inglês assistindo a alguns vídeos de dez minutos. Para este público, o imprescindível é passar noções da língua e fazer com que conheçam aspectos e diferenças culturais. Além disso, tentamos chamar a atenção para alguns pontos importantes como expressões, por exemplo”.

María Celina Ibazeta coordenou, ao lado de Talita Barreto, a equipe de conteudistas de espanhol. Ela explica que o trabalho foi multidisciplinar e isso trouxe uma enorme contribuição para o produto final. “Fizemos uma ponte com os profissionais de audiovisual e eles foram muito criativos em transformar o conteúdo em situações criativas. Foi um processo de muitas idas e vindas, correções, revisões, mas conseguimos uma boa integração e isso pode ser percebido através do excelente resultado. Outro ponto importante foi a preocupação com a aprendizagem. Queríamos produzir algo divertido, mas com qualidade, que envolvesse o aluno e queríamos, também, mostrar a diversidade da língua espanhola. Com certeza, alcançamos estes objetivos”.

A Fetranspor espera resolver os principais problemas de comunicação e, em junho, a notícia chegou aos motoristas, trocadores e fiscais com o lançamento do programa. Alguns dizem que há boatos sobre um projeto de aulas de inglês e espanhol de forma continuada após esta primeira fase do projeto.

O fiscal Jorge, aquele que ficaria rico se cobrasse uma moedinha por cada informação, acha que um curso de idioma seria fundamental, ajudaria todo mundo, mas tem que acontecer antes de 2014.

De fato, os planos da Fetranspor são de distribuição dos vídeos em 2011, portanto, com tempo suficiente para que os profissionais da área estudem. Os motoristas de ônibus poderão dizer, sem precisar tirar as mãos do volante, yes, we speak english.