Programas de rádio estimulam jovens a estudar ciência

Em áreas desfavorecidas, o índice de evasão escolar é maior. Para tentar diminuir esse problema e motivar jovens nos estudos, a PUC-Rio vem desenvolvendo um trabalho que une educação e o uso de recursos tecnológicos e de entretenimento. O projeto recebeu um nome grande – Difusão e popularização da ciência e tecnologia através de mídias digitais contextualizadas para a inclusão sócio-produtiva de adolescentes pobres da Região Metropolitana do Rio de Janeiro – mas os resultados são ainda maiores.

Tudo começou com a ideia de aproveitar uma série de programas de rádio desenvolvidos pela CCEAD para o projeto CONDIGITAL e que abordam temas na área de ciência e tecnologia comuns ao cotidiano destes jovens como a questão do lixo urbano, poluição atmosférica, alimentos mais saudáveis, reciclagem de embalagens e conservação de alimentos, entre outros.
O projeto teve o apoio da FAPERJ através do edital Apoio à Difusão e Popularização da Ciência no Estado do Rio de Janeiro e foi elaborado junto com o professor José Carmelo, do Departamento de Educação da PUC, e com a pedagoga Ciléia Fioroti, da CCEAD, responsável por contatar as equipes dos Cursos Comunitários Pré-Técnicos (aulas preparatórias gratuitas para escolas técnicas e profissionalizantes) em diversas regiões do Rio de Janeiro.

Os Cursos Comunitários Pré-Técnicos são importantes porque complementam os estudos dos jovens. Segundo dados do Ministério da Educação, apenas 2% dos jovens moradores de favelas da região metropolitana do Rio têm acesso ao ensino médio e metade dos que concluem o ensino fundamental domina apenas conteúdos curriculares de matemática e português correspondentes apenas ao quarto ano. O projeto, portanto, facilita o ensino de ciência e contribui para a diminuição da evasão escolar.

Num primeiro momento, o material foi reunido em um site batizado com o nome Almanaque Sonoro de Ciência e Tecnologia. Elaborado pelo designer do CCEAD, Claudio Perpétuo, funciona como uma rede social de acesso exclusivo para professores e ali estão disponibilizados os programas de rádio com cinco minutos de duração cada.

Em seguida, os programas foram disponibilizados nos telefones celulares de adolescentes que fazem parte dos Cursos Comunitários Pré-Técnicos. Como as aulas acontecem geralmente nos finais de semana, é extremamente importante usar metodologias de ensino que motivem os alunos a participar e a utilização dos celulares dos próprios alunos foi uma opção bastante acertada nesse sentido.

Paralelamente, na PUC-Rio, Gilda Helena preparava os professores voluntários dos cursos comunitários, responsáveis por aplicar o método nas comunidades. Durante as aulas, o site é exibido e um dos programas é apresentado para que os alunos possam ouvir e debater. O arquivo do programa também é disponibilizado nos celulares dos alunos para que, durante a semana eles possam escutar outras vezes seu conteúdo.

“Na semana seguinte, debatemos o assunto e propomos trabalhos em grupo, em geral, fazendo com que eles produzam pequenos vídeos sobre o que escutaram. O material produzido por cada turma é disponibilizado na internet para que os professores possam discutir e trocar informações, já que há no site espaço para blogs e chats para professores”, explica Gilda Helena.

Um dos objetivos do projeto é formar multiplicadores entre os professores e replicar a metodologia do Almanaque na rede pública estadual, o que já está acontecendo em alguns lugares. E os resultados obtidos indicam que o projeto é um grande sucesso. Na Vila Kenedy, por exemplo, onde as aulas acontecem em uma igreja próxima a um valão, uma das primeiras questões trabalhadas foi a do lixo urbano. “Com maior consciência sobre o problema, eles começaram a fiscalizar e orientar os moradores a não jogar mais lixo no local, conseguindo parar de poluir aquele trecho”, recorda Gilda Helena. Outro caso de sucesso aconteceu em Sulacap, bairro da Zona Oeste do Rio. Os estudantes e professores voluntários se mostraram tão interessados que criaram uma ONG para realizar atividades e dar continuidade ao projeto.

Para Gilda Helena, entretanto, o mais gratificante foi saber que ali eles conseguiram uma redução de 50% na evasão escolar em relação ao ano anterior.