Projeto em parceria com o Planetário leva visitantes a um passeio virtual pelos mistérios do universo

Imagine ter em suas mãos a passagem para embarcar numa viagem pelo espaço? Hoje em dia não são apenas astronautas que podem ter o “passaporte carimbado” com destino a várias camadas da atmosfera. Qualquer um com bastante dinheiro sobrando pode garantir um assento nas espaçonaves do excêntrico Richard Branson – dono da Virgin Galactic, empresa que elabora projetos de viagens espaciais para civis.
Porém, a grande maioria da população não está com bastante dinheiro sobrando e o projeto de Branson é, ainda, apenas um projeto que não saiu sequer da fase de testes, imagine então da Terra. Estes contratempos impediriam as pessoas de viajar pelo espaço, mas há um projeto em andamento que permite a realização destes passeios pelo universo, de forma virtual e gratuita.

A concepção da proposta

A ideia surgiu quando uma equipe formada por membros da PUC-Rio e do Planetário perceberam a importância de oferecer recursos midiáticos educacionais para serem utilizados por estudantes e professores em museus e centros de ciências no Estado do Rio de Janeiro, com o intuito de levar os conhecimentos básicos e necessários à compreensão da astronomia.

O coordenador do projeto, professor Bernardo Pereira Nunes, explica que a intenção é disponibilizar tablets nas unidades da Fundação Planetário do Rio de Janeiro na Gávea, zona sul e, possivelmente, em Santa Cruz, zona oeste da cidade. A partir destes tablets, os visitantes poderão acessar uma plataforma com vários recursos midiáticos abordando temas relacionados ao universo.

Assim como outras ciências, a astronomia faz parte do currículo escolar seguindo os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) em diversas séries. Porém, o seu ensino ainda esbarra em um reduzido número de profissionais preparados para ministrar essa disciplina e, mesmo fenômenos simples encontrados nos PCN, como as fases da lua, as estações do ano e eclipses, são explicados, muitas vezes, de forma inadequada. Os recursos midiáticos propostos possuem um conteúdo abrangente de astronomia que são explicados de forma simples, permitindo que visitantes, incluindo professores e alunos, tenham sempre à mão um guia para compreendê-lo.

A plataforma preencherá, portanto, a lacuna que existe na formação dos professores dos ensinos fundamental e médio e servirá como motivação aos jovens para, no futuro, talvez, escolher uma carreira científica.

A equipe envolvida no projeto acredita que, em funcionamento, a plataforma poderá levar os conhecimentos básicos e necessários para a compreensão da astronomia a todos que tiverem acesso a ela, em especial, professores e alunos da rede de ensino pública e privada do Rio de Janeiro.

Relevância dos recursos

A característica mais interessante do desenvolvimento de um software é a possibilidade que ele abre para a convergência das diferentes mídias: texto, som, imagem estática e em movimento, todos os formatos audiovisuais como, por exemplo, documentários, recursos de simulação, animação e representações gráficas organizados hipertextualmente. Esta convergência potencializa ao máximo a capacidade das mídias de propiciar aprendizagem.

Além disso, o software dividido em animação e simulação abrange uma série de artefatos nos quais a utilização do computador e um nível variável de intervenção do usuário em procedimentos de caráter pedagógico auxilia o aluno no processo de aprendizagem. O desenvolvimento de animações e simulações pode estabelecer o contato científico através de uma abordagem lúdica, aguçando a curiosidade pelos temas.

O software é capaz, ainda, de fornecer um ambiente para simulação de experimentos que não podem ser reproduzidos em sala de aula devido a restrições físicas, econômicas ou mesmo de periculosidade. Assim, é possível simular virtualmente processos e fenômenos usando linguagem metafórica e representações conhecidas para os estudantes. É possível, também, desenvolver objetos que se aproximam de forma fiel ao que acontece em dimensões de realidade de difícil observação.

Igor Martins, desenvolvedor front-end, que participa do projeto, explica como o software educacional contribui para uma aprendizagem intuitiva, para a ressignificação de conteúdos e para um processo de ensino-aprendizagem lúdico: “Consideramos que do ponto de vista das habilidades envolvidas no ato de aprender, os formatos do software educacional procuram estimular a imaginação, o controle de variáveis e de etapas de uma observação ou experimento, a formulação de hipóteses, a tomada de decisão e a verificação de resultados”.

Plataforma Web

A plataforma que está sendo desenvolvida vai hospedar mídias com diferentes temáticas relativas aos fenômenos científicos de física e astronomia, seguindo uma interface didático-pedagógica e que, tecnicamente, permitirá interatividade, acessibilidade e adaptabilidade.

Com o apoio da FAPERJ, uma equipe de especialistas ligados à Fundação Planetário elabora o conteúdo educacional e a Coordenação Central de Educação a Distância da PUC-Rio fica encarregada pela estruturação do material didático e desenvolvimento das mídias.

Richard Branson não é o único visionário quando o assunto é espaço. A equipe que participa da construção da plataforma sobre o universo sonha em alçar voos mais altos e espera espalhar sua ideia por todo o país. “Acreditamos que estudantes e professores do Brasil inteiro poderão ser atendidos a partir dos pontos de distribuição dos materiais digitais educacionais, localizados no Planetário do Rio e, possivelmente, em museus, centros de ciências e planetários existentes no território nacional”, diz o professor Bernardo.

De fato, além de atender a demandas de planetários, em especial o Planetário do Rio, os recursos midiáticos educacionais poderão contribuir para a formação de professores e com as escolas da rede nacional que, em geral, contam apenas com iniciativas isoladas para a introdução de temas relacionados à astronomia em sala de aula.

Planetários no Brasil

Existem no Brasil cerca de cinquenta planetários fixos e outros tantos móveis, perfazendo um total de aproximadamente cem espaços dedicados à educação não formal, com ênfase na divulgação da astronomia e das ciências afins. Estes planetários são ligados a universidades federais, estaduais, prefeituras e, alguns poucos, a instituições privadas, e estão, em sua maioria, em contato através de uma rede colaborativa pela Associação Brasileira de Planetários (ABP).

Os planetários são espaços que atendem aproximadamente um milhão de estudantes, sendo que cerca de metade deste montante é devido à atuação da Fundação Planetário da Cidade do Rio de Janeiro, também conhecida como Planetário do Rio.

O Planetário do Rio possui três cúpulas para observação do universo, duas delas localizadas na unidade principal, no bairro da Gávea, e uma em sua unidade avançada, no bairro de Santa Cruz. Elas são dotadas de um moderno sistema de projeção digital.