Do início ao fim.

A visão de quem participou de todas as etapas de uma especialização a distância – da proposta ao TCC.

Com a formatura do terceiro grupo de alunos da especialização “Tecnologias em Educação”, a CCEAD relembra os primeiros passos deste curso que formou mais de 4.500 profissionais da área educacional. Na primeira edição, a professora do Departamento de Letras da PUC-Rio, Erica dos Santos Rodrigues, teve a oportunidade de acompanhar todas as etapas deste projeto, desde a elaboração da proposta até a apresentação dos trabalhos finais. Nesta entrevista, ela conta como foi este trabalho e quais as lembranças que ela leva dessa experiência.

Como surgiu a oportunidade de participar do projeto de elaboração da especialização “Tecnologias em Educação”?

Maria Carmelita Pádua Dias e a Violeta Quental, na época, também professoras do Departamento de Letras, foram convidadas para ajudar na elaboração da proposta de um curso de especialização a distância, relacionado com o uso de tecnologias na educação. Elas, então, me chamaram para integrar o grupo e foi quando tive o primeiro contato com a CCEAD. Nossa responsabilidade era a montagem de duas disciplinas, “Introdução às narrativas e roteiros interativos para educação” e “Projeto pedagógico utilizando texto, imagem e som”.

Você já tinha alguma experiência com educação a distância?

Na época, estava trabalhando num projeto de apoio à aula presencial. O curioso é que precisava elaborar exercícios com a equipe do Rio, mas eu estava fora da cidade, então posso dizer que boa parte do trabalho que desenvolvi para EAD foi feito a distância. Além disso, nós, do Departamento de Letras, já discutíamos a possibilidade de realizar aulas virtuais, então, estávamos bem sintonizados com o que é pensar um conteúdo em plataforma EAD. Temos a consciência de que um texto, por exemplo, não pode ser o mesmo usado em uma aula tradicional.

Como a formação em Letras ajudou no desenvolvimento desse projeto?

As professoras Violeta e Carmelita são da área de Linguística Computacional, então, há uma relação com educação a distância. Eu sou pesquisadora da área de Psicolinguística e trabalho com a questão dos processos das operações mentais subjacentes a atividades de produção e leitura de textos. Nesta área, temos consciência de que as operações e recursos usados para ler um texto na tela não são os mesmos que aqueles usados para ler um texto na sala de aula e em papel. Minha contribuição foi com esse olhar do processamento.

Que contribuições foram dadas pela equipe do Departamento de Letras no desenvolvimento do projeto e do conteúdo?

Acho importante ressaltar que participei da elaboração dos conteúdos numa interação direta com a equipe da CCEAD responsável por sua implementação. Nós, de Letras, organizamos o conteúdo textual de acordo com o suporte a ser utilizado porque acreditamos que isso facilita a interação e o envolvimento do aluno. Durante o trabalho em parceria com a CCEAD foram sugeridas algumas formas de como o material deveria ser segmentado, por exemplo, quais eram os tipos de links que deveriam ser propostos, que tipos de atividades funcionariam bem no ambiente de fórum ou não, que arquivos deveriam ser enviados para o tutor que acompanhava as disciplinas etc. Acho que esta foi uma contribuição importante. Durante o curso, também acompanhei os tutores dando orientação sobre o material.

Quando o curso já estava em andamento, você foi orientadora dos TCCs. Como foi essa experiência?

Foi um grande desafio por vários motivos. Na primeira edição, os trabalhos finais eram feitos em grupo e eu orientava alunos de diferentes Estados, cada uma com sua própria cultura e realidade. Além disso, nós, orientadores, confirmamos o que já sabíamos: a orientação a distância demanda mais tempo e exige uma resposta muito mais imediata do que nas situações cuja interação é presencial. Por mais estranho que pareça, há mais proximidade com alunos do curso a distancia devido aos encontros virtuais que são mais frequentes. Na época, eu ainda não usava recursos como o Skype e a interação era por e-mail, o que permitia muita flexibilidade em termos de horários. Muito bacana foram também as viagens para acompanhar as defesas nos Estados.

Fale um pouco sobre as viagens.

Viajei em dois momentos. Primeiro para a abertura do curso. Fui à Paraíba, Maranhão e Bahia. Em cada lugar existe uma realidade diferente. Encontramos professores que não sabiam sequer manipular o mouse ou onde colocar o CD – na época, ainda não usávamos o pendrive. Percebi que existia um problema anterior de carência do ponto de vista do contato com a máquina. Por outro lado, percebi que uns ajudavam os outros e isso foi bacana. Outro problema muito forte e que, na minha opinião, ainda persiste, é o precário acesso à internet em algumas regiões. Com tudo isso, ficou claro o peso muito grande do esforço individual. No fim do curso, viajei para a Bahia para acompanhar as defesas e foi o momento mais interessante porque vi o grau de envolvimento das pessoas e como a especialização representava um diferencial nas suas vidas. A defesa era para elas uma espécie de comemoração.

Este curso foi oferecido para a Firjan, mas para isso, foi necessário realizar adaptações. Você também participou deste trabalho?

Sim. Na verdade, tivemos que fazer adaptações até mesmo quando ocorreu a segunda versão da especialização, mas foi apenas uma pequena atualização do conteúdo. Com o lançamento do curso pela Firjan, foi preciso rever todo o material, por isso, mais do que uma simples atualização, me senti construindo um novo curso. Três razões me obrigaram a isso. Em primeiro lugar, percebi que muita coisa mudou em seis anos. Em segundo lugar, o público era outro, mais informado e com domínio bem maior das tecnologias. A última razão foi constatada enquanto orientava os alunos da primeira versão do curso. Eles priorizavam, num primeiro momento, o recurso, não o conteúdo. Era preciso fazer com que eles entendessem que dominar as novas tecnologias é muito complexo. Por exemplo, não podemos optar por usar um blog e, então, adaptar nosso conteúdo para esta ferramenta, é justamente o contrário, ou seja, eleger a ferramenta adequada para trabalhar o conteúdo. A escolha da tecnologia não pode vir em primeiro lugar.

Como você trabalhou esta questão?

Ao rever o curso, levantei alguns pontos, por exemplo, que habilidades são necessárias para trabalhar com as tecnologias, o que é ser letrado do ponto de vista das TICs e como a ideia de multimodalidade é fundamental para interação com as novas tecnologias, adequando-as ao conteúdo que se quer transmitir. Outro ponto importante que propus trabalhar refere-se à ideia de que a leitura não é só a leitura da linguagem verbal, mas do visual e do som, e como é possível integrar essa várias modalidades de linguagem para construir o sentido desejado.