Steve Jobs ficou conhecido como o homem que sacudiu seis grandes indústrias: computadores pessoais, filmes de animação, música, telefones, tablets e publicações digitais. No dia 29 de abril de 2010, cerca de um ano e meio antes de morrer, o então presidente da Apple Inc., numa incomum manifestação oficial, publicou uma carta longa e detalhada explicando todos os motivos que levaram sua empresa a não adotar a tecnologia Flash, da Adobe, em iPad, iPod e iPhone. Era o início de mais uma revolução protagonizada por Jobs e que também atingiria em cheio a educação a distância.
Muitas universidades que trabalham com educação a distância vêm investindo na integração didática de diferentes recursos, focando em um universo multimidiático, o que inclui vídeos e animações, em grande parte, desenvolvidos em Adobe Flash.
A Coordenação Central de Educação a Distância da PUC-Rio, além de priorizar esta área, ainda investe na oferta de aulas a distância em uma parcela dos cursos presenciais, obedecendo
a Portaria no 4.059, que permite esta prática em universidades de ensino superior.
Semestralmente, os alunos que participam destas aulas respondem a um questionário de avaliação, dando opiniões e fazendo críticas; algumas reclamações já foram percebidas nestas pesquisas, como a inviabilidade de acessar os objetos de aprendizagem desenvolvidos com Adobe Flash. A queixa vem de alunos que usam os dispositivos móveis da Apple.
O sinal de alerta piscou na CCEAD, responsável pela viabilização do apoio aos cursos presenciais. Renato Araujo, coordenador da área de Tecnologia da Informação da CCEAD, explica quais são as medidas que estão sendo tomadas para enfrentar este desafio:
“Nós sabemos que a utilização de iPad, iPod e iPhone é muito grande entre os alunos da PUC-Rio e eles precisam ter acesso aos objetos que desenvolvemos; por isso, estamos trabalhando para implantar cursos que não exigem plugins, como o Flash. Nossos próximos cursos serão feitos com mais objetos em HTML5”.
Renato ressalta, entretanto, que a questão não é apenas essa. O uso de HTML5 justifica a agitação mundial na área de tecnologia da informação devido à implantação dessa nova versão da linguagem, visando estruturar e apresentar conteúdos para a web de uma nova maneira, além da importância da padronização, essencial na garantia da homogeneidade de acesso.
“Todos nós fomos forçados a encarar o problema do acesso e estamos caminhando para uma solução. Entretanto, na universidade, a discussão vai além. Aqui, refletimos sobre as outras mudanças que virão quando o HTML5 se tornar efetivamente o modelo. Certamente, portas se abrirão para novas formas de interação, colaboração e movimentos de animação, sem falar na questão da instantaneidade da informação. Nosso debate gira em torno do seguinte ponto: como isso afetará a educação?”, questiona Renato.
A atual dificuldade de acesso por parte de alguns alunos é apenas a ponta do iceberg. Os objetos de aprendizagem são fundamentais para as Tecnologias de Informação e Comunicação e é inegável que o HTML5 vai alterar toda sua forma de produção; portanto, podemos esperar uma mudança na maneira de utilizar os recursos da educação a distância.
Steve Jobs defendia que não deveria existir um terceiro – e ele estava falando especificamente da Adobe – entre os desenvolvedores e as plataformas. Ele favorecia o desenvolvimento do HTML5 porque acreditava que isso iria tornar o Adobe Flash desnecessário para assistir vídeos ou exibir qualquer conteúdo web.
Porém, a variedade de browsers sempre resultou em apresentações diferentes em cada navegador, impedindo uma programação única e, com isso, causando inúmeros transtornos para os desenvolvedores Web.
Em novembro de 2011, um mês após a morte de Jobs, a Adobe anunciou que iria interromper o desenvolvimento de Flash para dispositivos móveis, redirecionando seus esforços para o desenvolvimento de ferramentas utilizando HTML5.
Antes disso acontecer, o WHATWG (Web Hypertext Application Technology Working Group) e o W3C (World Wide Web Consortium), consórcios que estabelecem padrões para a criação e interpretação de conteúdos para a Web, já estavam trabalhando juntos no desenvolvimento do HTML5. Em 2008, por exemplo, o W3C havia anunciado a sua primeira especificação e a versão final está prevista para 2012.
Algumas mudanças já são sabidas e estão disponíveis em alguns browsers, por exemplo, o controle embutido de conteúdo multimídia, melhoria na depuração de erros e a apresentação de novas Interfaces de Programação de Aplicativos (APIs), entre elas, uma voltada para o desenvolvimento de gráficos bidimensionais.
Um dos principais trunfos, porém, é a grande redução da necessidade de plug-ins para aplicações multimídia em navegadores. Isto significa que não será necessário baixar programas que leiam, por exemplo, vídeos codificados em Flash. É por isso que a quinta versão do HTML está sendo chamada de Flash killer, ou seja, assassino do Flash.
Ainda há muito a descobrir, mas o fato é que muitos navegadores, entre eles o Internet Explorer e o Firefox, assustados com o possível fim do Flash, estão se preparando para a chegada definitiva do HTML5.
Eu queria falar a respeito dos nossos pensamentos sobre os produtos Flash da Adobe, para que os clientes e os críticos possam entender melhor por que nós não permitimos Flash em iPhones, iPods e iPads.
Adobe tem caracterizado a nossa decisão como tendo fins essencialmente comerciais – dizendo que queremos proteger nossa App Store – mas na realidade isso se baseia em questões tecnológicas. A Adobe afirma que somos um sistema fechado, e que o Flash é aberto, mas na verdade é o contrário que ocorre. Deixe-me explicar.
Embora os produtos Flash da Adobe sejam amplamente disponíveis, isso não significa que eles sejam abertos, pois eles são integralmente controlados pela Adobe e estão disponíveis somente por meio da Adobe.
Nós acreditamos fortemente que todas as normas relativas à web devem ser abertas. Em vez de utilizar o Flash, a Apple adotou HTML5, CSS e JavaScript – todos os padrões abertos.
O HTML5 – padrão da web aprovado pela Apple, Google e muitos outros – permite que desenvolvedores web criem gráficos avançados, tipografia, animações e transições sem depender de plug-ins de terceiros (como o Flash). O HTML5 é totalmente aberto e controlado por um comitê de normas do qual a Apple é membro.
O Flash foi criado durante a era do PC – para PCs e mouses. O Flash é um bom negócio para a Adobe, e podemos entender porque eles querem empurrá-lo para além de computadores. Mas a era dispositivos móveis é a era do baixo consumo de energia, das interfaces de toque e dos padrões web em código-aberto – todas as áreas onde o Flash fica devendo.
A avalanche de meios de comunicação oferecendo conteúdo para os dispositivos móveis da Apple demonstra que o Flash não é mais necessário para assistir a vídeos ou consumir qualquer tipo de conteúdo na web. E os 200 mil aplicativos na App Store da Apple mostram que o Flash não é necessário para que dezenas de milhares de desenvolvedores criem aplicativos ricos graficamente, incluindo jogos.
Os novos padrões abertos criados na era móvel, como HTML5, serão vitoriosos em dispositivos móveis (e também nos PCs). Talvez a Adobe deva se concentrar mais na criação de ferramentas para HTML5 e pensar no futuro, em vez de criticar a Apple por deixar o passado para trás.