A imagem do docente como único detentor do conhecimento em sala de aula já está ultrapassada. Com o acesso cada vez mais massivo às Tecnologias da Informação e Comunicação (TICs), a principal marca do relacionamento entre alunos e professores é a troca de saberes e experiências, e a aceleração provocada pelas TICs vem forçando a mudança de estratégias pedagógicas.

Estas novas estratégias incluem oferecer ao aluno a oportunidade de participar da produção do conhecimento, o que não implica transformar o professor em mero coadjuvante, como explica o Coordenador de Design Didático da CCEAD PUC-Rio, Sergio Botelho do Amaral: “existem ferramentas tecnológicas, como wikis e blogs, que permitem que o aluno seja coautor. Com isto, a responsabilidade de ser transmissor absoluto do conteúdo é modificada, deixando o professor com um papel de orientador da turma. Por exemplo, é importante saber que informações da internet são confiáveis, e isso é papel do professor”.

Mas não são apenas os alunos que estão participando da produção de conteúdo. A troca de ideias, experiências e informações ultrapassa os muros da escola, evidenciando a tendência mundial da educação aberta.

De acordo com a Declaração Sobre Educação Aberta da Cidade do Cabo, por exemplo, este é um “movimento emergente de educação que combina a tradição de partilha de boas ideias com colegas educadores e da cultura da internet, marcada pela colaboração e interatividade. Esta metodologia de educação é construída sobre a premissa de que todos devem ter a liberdade de usar, personalizar, melhorar e redistribuir os recursos educacionais, sem restrições. Educadores, estudantes e outras pessoas que partilham esta visão estão unindo-se em um esforço mundial para tornar a educação mais acessível e mais eficaz”.

A educação aberta é possível graças aos Recursos Educacionais Abertos (REAs), isto é, materiais de ensino, aprendizado e pesquisa em qualquer suporte ou mídia, sob domínio público ou licenciados de maneira aberta, permitindo que sejam utilizados ou adaptados por terceiros.

De acordo com a Commonwealth of Learning/UNESCO, estes recursos podem incluir cursos completos, partes de cursos, módulos, livros, artigos de pesquisa, vídeos, softwares e qualquer ferramenta, material ou técnica que funcione como acesso ao conhecimento.

“A grande vantagem dos Recursos Educacionais Abertos, os REAs, como são conhecidos, é que qualquer material disponível no mundo virtual pode ser usado e adaptado por outras pessoas. Há uma divisão do conhecimento entre pessoas que, de outra forma, jamais teriam qualquer contato. É importante lembrar que não se trata somente de objetos de aprendizagem. A filosofia por trás dos REAs é a disponibilização de materiais educacionais como bens comuns e públicos, voltados para o benefício de todos”, diz Sergio.

Por ser material livre, os usuários de Recursos Educacionais Abertos têm permissão para usá-los, aprimorá-los (visando o adequamento a necessidades específicas), recombiná-los com outros materiais e distribuí-los sem qualquer risco legal.

A Declaração sobre Educação Aberta da Cidade do Cabo, por exemplo, defende que a expansão global da coleção de Recursos Educacionais Abertos criou um terreno fértil para o esforço da educação aberta. Esses recursos contribuem para tornar a educação mais acessível, especialmente quando o dinheiro para aquisição de materiais de aprendizagem é escasso. Eles também nutrem o tipo de cultura participativa, de desenvolvimento, partilha e cooperação que a rápida evolução das sociedades do conhecimento exige.  A educação aberta, no entanto, não está limitada apenas a Recursos Educacionais Abertos. Baseia-se, também, em tecnologias abertas que facilitem a aprendizagem colaborativa e flexível, e o compartilhamento de práticas de ensino que capacitem educadores, permitindo que eles se beneficiem das melhores ideias de seus colegas.

O uso de Recursos Educacionais Abertos foi um dos temas principais do 18º Congresso Internacional de Educação a Distância, realizado pela Associação Brasileira de Educação a Distância (ABED), em setembro. O presidente da ABED, Fredric Michael Litto, acredita que esses recursos representam um dos mais importantes marcos de democratização do conhecimento. Na página do Congresso, Litto afirma que os REAs são “o ingrediente para assegurar revitalização e expansão à EAD, que agora pode enriquecer a aprendizagem dos alunos com a contribuição de conteúdo provindo de múltiplas fontes. Essas iniciativas também podem estimular e facilitar a prática de aprendizagem independente, autônoma”.

Litto levanta algumas questões importantes: “O Brasil está acompanhando os demais países nessa vertente didática tão promissora? Quem no país está (ou não está) se beneficiando dessa tendência? Há uma ou mais regiões geográficas, ou aprendizes em apenas determinados tipos de instituição? Qual é o papel da EAD com relação aos REAs? Quem são os principais contribuidores de REA no país? Como estimular uma participação maior de governos, instituições de ensino, centros de pesquisa, editoras de livros e revistas, além de outros setores da sociedade em geral?”.

Nesse ponto, Sergio Amaral lembra que, no Brasil, o debate político sobre os REAs está estruturado em quatro eixos: o acesso público a materiais educacionais em geral, bem como uma estratégia de educação aberta para incluir toda a sociedade no processo de aprendizagem e de produção colaborativa de conhecimento; o ciclo econômico de produção de materiais educacionais e seu impacto no “direito de aprender dos cidadãos”; os possíveis benefícios que os REAs podem trazer para as estratégias de aprendizagem; a produção de recursos educacionais, mais apropriados à diversidade regional e aos padrões regionais de qualidade e o impacto dos recursos digitais – on-line e abertos – no desenvolvimento profissional continuado dos professores.

Esses eixos, ao mesmo tempo em que espelham as estruturas internas da educação tradicional, estão associados às novas oportunidades proporcionadas pela mudança em direção às redes digitais e à disseminação e utilização desses recursos educacionais.

O Opencourseware consortium, OCWC,  tem como objetivo promover a aprendizagem formal e informal mundialmente através de materiais educacionais livres, abertos e de alta qualidade. Você pode consultar as notícias deste consórcio em www.ocwconsortium.org.