Redes sociais não faltam: Orkut, Twitter, Facebook, só para citar algumas, onde cabe todo mundo e também todos os assuntos. Mas redes voltadas para públicos específicos também estão surgindo há algum tempo; não com tanta badalação quanto essas, porém, com foco e propósitos bem definidos. É o caso de redes virtuais voltadas especificamente para os professores trocarem ideias e experiências; redes que ajudam a discutir e compartilhar práticas pedagógicas; redes como o Almanaque Sonoro de Ciência e Tecnologia, implementada pela CCEAD PUC Rio para atender a um projeto educacional de cunho inovador, que vem sendo desenvolvido desde o início de 2012 em parceria com a FAPERJ e a UniRio.
Para se ter uma ideia do projeto, é preciso lembrar que a proposta de inclusão de adolescentes de áreas periféricas na região metropolitana do Rio de Janeiro vem sendo desenvolvida desde 2008 numa parceria entre a CCEAD e o Núcleo de Apoio Pedagógico às Classes Comunitárias – NAPC da PUC-Rio. O que se pretende, agora, é ampliar essa inclusão com o apoio de objetos de aprendizagem baseados em áudio, disponibilizados nos celulares dos alunos, para ajudar na disseminação e popularização do ensino de Ciências.
Ao todo, estão sendo atendidos aproximadamente 150 adolescentes em três Cursos Comunitários Pré-Técnicos (CCPTs). Entre várias iniciativas, o projeto permitiu que três unidades dos CCPTs (IBB, Perfeita Alegria e Vila Kennedy) viessem a receber um laptop e um projetor; recursos cujo propósito é fazer das aulas um espaço ainda mais amplo. Afinal, o laptop no cotidiano da sala de aula possibilita o acesso instantâneo à informação e desestabiliza uma hegemonia histórica em favor de uma relação mais horizontal entre professor, aluno e conhecimentos. Diversos pendrives também foram distribuídos junto às Classes Comunitárias para permitir o armazenamento dos objetos de aprendizagem no formato áudio (mp3).
Antes de tudo, vale ressaltar que a principal ideia do projeto “Almanaque Sonoro de Ciência e Tecnologia” é fazer uso dos próprios celulares dos alunos para “turbinar” os Cursos Comunitários Pré-Técnicos, a partir de conteúdos sonoros inovadores. Nesse sentido, cabe ressaltar que a iniciativa toma por base a própria realidade da telefonia móvel em nosso país: o número de linhas celulares ativas no Brasil chegou a 247,2 milhões no início de 2012. Ao todo, 26 unidades federativas possuem índice superior a uma linha celular por habitante; a exceção é o Estado do Maranhão, que ainda possui 83 acessos móveis a cada 100 habitantes.
Sendo assim, nada mais lógico do que aproveitar dezenas de programas de áudio de alta qualidade técnica e pedagógica, que se encontram disponíveis em ambientes de acesso público, a exemplo do Portal dos Professores, no site do MEC. Pensando nisso, a CCEAD criou e implementou uma rede social específica (sob medida) para os Cursos Comunitários Pré-Técnicos. Em seu ambiente web ( www.cceadpucrio.ning.com ), foram disponibilizados diversos temas – elaborados sob um viés cidadão – que têm em comum a presença das ciências no cotidiano.
Cada programa fonográfico tem a duração de 10 minutos. Ao todo são 6 horas de programação, num total de 200 MB. Todo esse material ocupa, portanto, apenas 10% da capacidade média de armazenamento dos celulares mais modestos do mercado. Outro ponto positivo é que o professor pode contar com um Guia Didático associado a um link em cada programa. Na rede, o docente também encontra espaço para comentar suas experiências com os demais professores participantes e, assim, registrar e compartilhar suas descobertas e resultados alcançados.
“Não é mais possível subestimar a potencialidade do áudio em pleno século XXI, quando o rádio já comprovou sua eficiência sobrevivendo às mídias que o sucederam. A voz traduz emoções e a audição provoca sensações no receptor, envolvendo-o. O aluno pode facilmente escutar o programa no seu celular, a caminho de casa, no ônibus, em qualquer lugar. Esta é uma experiência realmente valiosa de mobile learning”, comenta Claudio Perpetuo, Coordenador de Criação e Desenvolvimento da CCEAD.
Os professores das Classes Comunitárias participam, também, de oficinas mensais na própria CCEAD. “Essas oficinas são, na verdade, um espaço a mais para trocas (além do espaço virtual) visando a construção coletiva de uma nova forma de trabalhar o ensino de Ciências em sala de aula”, esclarece Cileia Fioroti, da área de Avaliação e Acompanhamento da CCEAD.
Minha história com áudio educacional começou em dezembro de 2008, quando fui convocada para uma reunião do Projeto Conteúdos Digitais (condigital) do MEC/MCT, na PUC Rio. Naquele momento, fui convidada a participar como conteudista para a área de Química. Não demorou muito e pude ouvir o primeiro programa de áudio produzido pela CCEAD. Como educadora, percebi que o cenário sonoro era bem mais instigante e atraente do que poderia imaginar e, ao longo de 2009 e 2010, pude acompanhar de perto a produção e conclusão de todos os programas. Ao todo, foram elaborados 72 objetos de aprendizagem para a mídia fonográfica.
A oportunidade suscitada pelo Condigital também me permitiu atuar no desenvolvimento de outros suportes e linguagens midiáticas visando apoiar o ensino de Química e contribuir para a melhoria e a modernização dos processos de ensino e de aprendizagem na rede pública. Foi uma experiência de valor inestimável. No entanto, fiquei especialmente impressionada com a produção da mídia áudio: sua concepção criativa, a metodologia e os processos de elaboração. O trabalho final resultou em um modelo de sensibilização inovador.
Em 2011 senti necessidade de acessar a academia para buscar referências científicas para as práticas pedagógicas que passei a realizar com o apoio desses objetos sonoros. Fiquei tão empolgada com minhas próprias experiências que iniciei um mestrado em Ensino de Ciências, cujo objeto de estudo é a potencialidade das ferramentas mediais de matrizes sonoras.
Mas foi em 2012 que vivi um dos dias mais marcantes na minha carreira de docente. Em um dado momento resolvi fazer uma proposta para os meus alunos: utilizar celulares nas minhas aulas de Química.
A bem da verdade, houve um tempo em que a presença dos celulares em sala de aula me incomodava bastante. Às vezes, ficava um pouco aborrecida ao ver os alunos portando seus dispositivos móveis, usando seus fones de ouvido o tempo todo. No entanto, há um ditado antigo que diz: “se não consegue vencê-los, junte-se a eles”. Foi então que imaginei uma maneira de aproveitar melhor a situação e resolvi experimentar o mobile-learning: pedi para os meus alunos acionarem seus celulares e ativarem o bluetooth.
Inicialmente, eles ficaram surpresos; alguns até pensaram que eu não estava falando sério. Emparelhei meu celular com o deles e comecei a enviar os áudios produzidos pela CCEAD PUC Rio. Em seguida, pedi que começassem a ouvir o material recebido, utilizando seus fones. À medida que eles iam ouvindo os materiais, fui percebendo que sentiam a necessidade de ouvir o que o outro estava ouvindo. Isso gerou permutas diversas, num momento educacional de grande intensidade.
O fato é que os alunos sentiram-se bastante à vontade para interagir uns com os outros, fazendo uso da novidade que acabara de chegar em seus celulares, via bluetooth.
Precisei esperar que passasse o momento de euforia para direcionar a atividade planejada.
A partir desse dia pude perceber o quanto é possível (e pertinente) usar o celular como recurso educacional. No momento, os trabalhos estão sendo elaborados e finalizados pelos alunos. Tão logo estejam terminados, prometo fazer um “post” na rede virtual “Almanaque Sonoro de Ciência e Tecnologia”. Fiquem ligados!